Blogue literário deTchalê Figueira

domingo, 16 de janeiro de 2011

O ENCONTRO


Olhando da janela do meu atelier para a baía do Porto Grande banhada por raios de sol, enxergo um barco cruzeiro, atracado no cais. Um bando de turistas, na maioria velhos ingleses, fazem fotos da velha capitania dos portos, outros vão entrando no mercado de peixe. Um homem dos seus sessenta e muitos anos, loiro, alto que nem uma figueira-brava, vê a minha Renault 4, estacionado na porta do meu estúdio, atónito, ele circula o carro várias vezes, e é visível na sua cara, uma certa alegria e surpresa, como se tivesse visto de novo, a sétima maravilha do mundo. Mirando na minha direcção, olha nos meus olhos, pergunta-me se falo inglês, digo-lhe que sim, e, apontando para a máquina, diz-me, que o seu primeiro carro foi uma Renault 4 nos anos sessenta. Digo-lhe que o meu tem 22 anos circulando, que adoro o meu velho carro. Pergunto-lhe de onde ele vem, ele diz-me ser Norueguês, que está no cruzeiro atracado no cais, a caminho de Buenos Aires… Que se sente como um peixe fora de água, no meio dos outros passageiros ingleses de classe média, uns verdadeiros snobes, que tratam mal aos tripulantes filipinos, mão de obra barata que as companhias vão buscar na Ásia…Diz-me que o barco é norueguês, mas que único norueguês da tripulação é o seu comandante… Flagrante imagem triste da globalização capitalista, diz-me o descendente dos vikings… Mudando de conversa, digo-lhe que tenho um irmão na Noruega, que mora em Mandal, no sul do belo país dos fiordes, há mais de 40 anos e… Após alguns segundos em silencio, diz:
Gostaria de beber uma cerveja, meu nome é Harald Myrvang! – Meu nome é Tchalê Figueira - Aqui na esquina, na loja Select, eles tem uma óptima cerveja Checa e, se você não se importa, lhe faço companhia!...
Na loja pedi a bela empregada duas cervejas, Harald perguntou-me algumas coisas sobre a minha pintura, disse-lhe que morei 15 anos em Basileia na Suíça onde trabalhei e estudei, falamos do famoso pintor norueguês Munch que ficou famoso com a obra o Grito, também de um outro menos conhecido de nome, Eikkas. Disse-lhe que gostava da musica de Grig, ficou admirado com os meus conhecimentos sobre cultura Norueguesa, (que não é assim tanto). Na segunda cerveja, Harald abre-se comigo, conta-me um pouco da sua vida: Diz-me que foi sociólogo, que está reformado, que vai até Buenos Aires, logo a Patagónia. Ao falar da Patagónia, menciono-lhe o belo livro de Bruce Chatwin: Viagem a Patagónia, ele desconhece a obra…- Depois da Patagónia irá regressar a Buenos Aires, para começar a viagem que fez Ernesto Che Guevara com o seu amigo numa motocicleta. Tinha visto o filme sobre El Comandante: Diário De Uma Viagem Em Motocicleta, ficou fascinado com a película e, após ter falado com os seus filhos, que tentaram dissuadi-lo da viagem, aqui estava em São Vicente, a caminho da Argentina…
Mostrou vontade de regressar um dia ao nosso arquipélago, dei-lhe o endereço e o número do meu irmão em Mandal para dar-lhe informações sobre Cabo-Verde, ele deu-me o seu endereço na Noruega, tentou pagar as cervejas, não aceitei, dizendo-lhe que ele pagaria quando eu for a Noruega.
Despedimos com um abraço! Ele para o seu cruzeiro, eu para o meu atelier…

Foi um belo encontro, um momento de confraternização entre dois homens que em poucas palavras se sentiram ligados pela forma humana, planetária, de amar este globo azul, nossa casa girando neste espaço infinito… Boa Viagem Haral! E que a tua viagem seja um encontro bonito, como foi o nosso, com homens de boa fé, em outras latitudes deste Mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário